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PASSADO PRESENTE


Compradores adoram, arquitetos odeiam, e o estilo neoclássico vai povoando a paisagem paulistana.

O Parthenon é aqui. Da Freguesia do Ó ao Alto de Pinheiros passando por ALPHAVILLE, não há região de São Paulo, hoje, que escape de um edifício neoclássico. Como os churros da Moóca e os terraços com churrasqueira, os “neos” são sucesso de público e se alastram para outras classes de imóveis que não as do alto padrão, a despeito da gritaria de arquitetos locais.

Gritaria que não é nova, como nada é, nesta história. A polêmica já começa pelo termo, marqueteiro. “Neoclássico é um tremendo elogio para o que está sendo feito”, diz Mário Biselli, 45, professor de projeto no Mackenzie e na Belas Artes.

De fato, há distância entre esses imóveis novos com verniz velho e o neoclassicismo, que apareceu no fim do século XVIII, na Europa, em resposta à overdose de barroco e rococó. O estilo retomava o equilíbrio das linhas da estética greco-romana. Em São Paulo, Ramos de Azevedo (1851-1928) foi seu representante, atrasado e isolado. Nos 1970, Adolfo Lindemberg espalhou a visão do que é morar com classe, com seus “neos” cor de creme e balaustradas. Se ontem seus prédios eram execrados por profissionais comprometidos com a reflexão, hoje são até poupados, distinguidos à frente de pastiches piores, que surgiram nas décadas seguintes. “Agora o que há são edifícios neogóticos-chineses-mongolóides”, batiza Sérgio Teperman, mestre pela FAU-USP. Um dos argumentos contra essa estética é o seu caráter literalmente de fachada: embalagem nobre, formulada para dar “a sensação de algo histórico e eterno, quando os revestimentos são os piores possíveis e os edifícios se deterioram rapidamente”, nas palavras de Teperman.

Associado ao luxo, o neoclássico envolve construção mais barata, com a vantagem de esconder defeitos com enfeites, segundo Mário Biselli. “Incorporadores e construtores acham fácil construir, porque é só pregar na fachada essas cornijas, essas colunas, tudo pré-moldado. Ficou feio? Põe coluna. Não deu o acabamento? Põe moldura. Já a arquitetura moderna, como é nua, trabalha com materiais bons”, contrapõe.

Um dos principais problemas da adoção do estilo, “além do estilo em si”, é o uso medíocre que se faz da linguagem passadista, ataca Biselli. “Ninguém sabe copiar direito uma composição neoclássica. É como tentar reproduzir a receita de um bolo, pegar um glacê e decorar. Não tem criação. Por isso, nenhum arquiteto contemporâneo vai dizer que isso é digno.”

O triunfo desse gosto, segundo Pirondi, mostra que ninguém sabe para que serve a arquitetura: “Cultura arquitetônica virou luxo pedante, e não forma de construção da civilização. Minha revolta com a volta ao passado é que já fizemos outra cidade, contemporânea. É como cuspir na história.”por Heloísa Helvécia.

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